Toscana, por Christiano Chadad

 *Ao final da página os endereços dos principais restaurantes e hotéis e os nomes dos vinhos citados neste post.

"Estive em uma dieta por duas semanas e tudo o que consegui perder? Duas semanas!"
Totie Fields (comediante americana, 1927-1978)

Foi minha segunda vez na Toscana. A viagem de 2010 havia deixado tantas impressões (e sabores) especiais sobre o lugar que fiquei com vontade de voltar desde o dia em que saí de lá. Quando ainda estávamos nos preparativos da viagem que faríamos à Las Vegas, me deu um estalo e mesmo há apenas dois meses da data em que havíamos combinado a viagem com um grupo de grandes amigos, resolvi sugerir a mudança para a Toscana e, para minha surpresa, a aceitação foi rápida e unânime. Achei que não seria fácil porque era como marcar Medicina na inscrição para o vestibular e mudar para Jornalismo faltando duas semanas para a prova. Ainda bem que me enganei!!!! E lá fomos nós seis, Fernanda, Marcelo, Cici, Lucas "Robuchon" Lerner, Cris e eu.

A partir desse ponto, dedicarei esse post integralmente à parte gastronômica da viagem. As belezas naturais, a parte histórica e os passeios ficarão por conta da titular do blog. Eu, como reserva e contribuidor eventual escolhi falar sobre um dos meus temas favoritos e, citando uma das minhas leituras obrigatórias, o chefe de cozinha e blogueiro Julio Bernardo (www.botecodojb.blogspot.com) , esse texto será, acima de tudo, para quem gosta de rango!

·        Montalcino

o   Castiglion Del Bosco
Logo na chegada, a primeira boa surpresa. Após um dia inteiro viajando, entre parte aérea e terrestre, chegamos ao hotel a tempo de tomar banho e ir direto ao restaurante do Castiglion del Bosco.  Todo mundo cansado, mas mostrando uma grande disposição para o início da maratona alimentar que viria nos 10 dias seguintes. Nesse primeiro jantar, o destaque ficou para as excelentes burratas  que comemos de entrada. Grandes, cremosas, com tomates e aquele azeite fabuloso da região. Não sou grande especialista em vinhos, aliás, não entendo quase nada do assunto, mas tanto o Rosso di Montalcino 2008 quanto o Campo del Drago (Brunello Riserva) 2005 também mereceram muitos elogios.

Acordando no dia seguinte, depois de uma boa noite de sono naquele quarto excepcional, nos dirigimos ao outro restaurante, para o café da manhã, que obviamente deveria ser leve, mas, sabem como é, primeiro dia de viagem, muita coisa para experimentar, dá nisso. Além dos bons pães acompanhados de alguns embutidos excelentes e um pouco de queijo Taleggio, resolvemos pedir uma porção de "salsiccia".  Parafraseando Marcelo, foi a melhor lingüiça que comi na minha vida.  No ponto certo, crocante por fora, um pouco mais crua no meio, sem placas de gordura. Excepcional



o   Degustação no Castiglion Del Bosco
Um pouco mais tarde, chegou a tão esperada hora do tour pelos vinhedos do Castiglion, seguida de degustação.  Como eu disse antes, o passeio fica por conta da Cris. Vamos direto à degustação!
No mesmo restaurante onde tomamos o café da manhã, o responsável pelo tour, Roberto, um italiano gente fina que naquele calorão não tirou seu paletó nem por um segundo e sequer transpirou (não sei como eles fazem isso, mas é verdade) esperou que fôssemos servidos de algumas focaccias e outros acompanhamentos e começou por um Rosso de Montalcino, seguiu para um Brunello e foi melhorando, passou para o Campo del Drago2005 (o mesmo Brunello Riserva que havíamos tomado no jantar) e terminou com o Prima Pietra 2007, um Super Toscano que eu, sinceramente, não achei grande coisa.  Como nosso amigo (e figura maravilhosa) Lucas "Augustão" Lerner havia recém chegado, vindo de uma emergência odontológica, resolvemos continuar além do que seria a degustação tradicional, subimos mais um degrau e pedimos uma garrafa de Millecento 2004. Detalhe: só havia garrafas magnum (1,5l). Lá fomos nós, após 4 taças cheias (Roberto não economizava), e tomamos mais 2 ou 3 taças cada um. Então, já que havíamos chegado até ali, resolvemos ir mais um pouco. Pedimos a sobremesa, e liderados pela Cris, decidimos tomar uma garrafa de vinsanto San Michelle que nos ajudou a fazer o encerramento em grande estilo.

o   Trattoria il Leccio
Apenas algumas horas depois, refeitos (alguns nem tanto, eu entre eles) da maratona etílica, nos encaminhamos para um restaurante indicado pelo concierge do hotel, na cidade Sant'Angelo In Colle. Típica cidadezinha Toscana: três ruas, algumas curvas, igreja, muitos varais com roupas nas janelas, enfim, aquela sensação bastante agradável de aconchego. Apesar do frio, resolvemos jantar nas mesas que ficavam fora do restaurante, afinal de contas, todos precisávamos de um pouco de ar. Apesar dos discursos sobre a falta de apetite geral, quando a garçonete sugeriu "antipasto da casa per tutti", não houve recusas.  Entre muitas coisas, destaque para as abobrinhas cortadas em pequenas tiras levemente empanadas como um tempurá e uma beringela à parmegiana que arrancou suspiros da ala feminina do grupo. Não tomamos vinhos dessa vez. Nos pratos principais, mandei ver numa tagliata de manzo que veio no ponto certo e, de sobremesa, uma panna cotta (meu ponto fraco) excelente.  O serviço foi gentilíssimo, apesar do nosso atraso em relação ao horário da reserva devido ao estado geral de alguns participantes.  De todos os restaurantes que fomos, achei o mais fraco, o que não quer dizer que tenha sido ruim, longe disso!!!
o   Enoteca Fortezza
Dia seguinte, sol um pouco mais fraco (os dias foram formidáveis, todos), após um passeio de bike pela região e descanso na piscina, eu e a Cris encontramos o resto da trupe que havia ido à Siena. Combinamos o encontro com todos em Montalcino, mas como o mundo é pequeno e a Toscana menor ainda, acabamos trombando com eles em Buonconvento, enquanto Lucas "The Entertainer" Lerner fazia atividades corriqueiras como lavanderia e açougue (quem não conhece o Lucas perde muito. Para não variar, ficou amigo do açougueiro e ainda ganhou um Vitello Tonato, ingerido imediatamente. Essa parte eu não vi, mas ele me contou tão feliz que pude imaginar a cena). Após um rápido sorvete, seguimos por mais uns 20 minutos até a Enoteca Fortezza. Gastarei pouco tempo com o local, porque, apesar de belo por estar numa fortaleza contruída há mais de 500 anos estrategicamente localizada no alto da cidade, para defendê-la, o propósito do post é a análise gastronômica e, nesse quesito, deixou bastante a desejar. O serviço parecia gentil, mas após a degustação (de qualidade apenas mediana, se comparada a quantidade e preço dos vinhos servidos) ficou evidente que tudo o que eles queriam era vender muitas garrafas de vinho. Lugarejo com pinta de armadilha para turistas. O Marcelo, sempre muito gentil, levou uma garrafa. Pelo menos foi do melhor vinho da degustação.  Esqueci de mencionar que havia o casamento de um policial, carabinieri, no local, o estacionamento estava difícil, os banheiros estavam bloqueados para o evento e toda vez que um garçom se dirigia com alguma bandeja para a festa, o Lucas erguia o braço como se estivesse querendo algo.  Dito isso, se não fosse a garçonete do Fortezza, muito disposta a nos agradar antes de NÃO comprarmos os vinhos, não saberíamos que havia um restaurante chamado Poggio Antico, a 15 minutos dali, onde resolvemos jantar.

o   Poggio Antico
Bela surpresa! Restaurante tradicional, com o dono e cozinheiro do restaurante andando pelo salão com seu avental e verificando a expressão de satisfação ou não da clientela. A entrada já estava excelente e o vencedor foi o steak tartar, dividido em três porções, sendo uma temperada apenas com sal, outra temperada normalmente e uma terceira trufada. O destaque da refeição certamente foi a Bisteca a la Fiorentina que o Marcelo, gentilmente como sempre, se dispôs a dividir com todos os demais comensais (tudo bem que era uma bisteca de 1,5kg) . A carne veio tão macia e no ponto tão perfeito que qualquer faca vagabunda faria o serviço de cortá-la. Além disso vinha acompanhada de uma batata crocante por fora e cremosa por dentro, bem definida por Marcelo como a melhor que havia comido em toda a sua existência. Meu pato fatiado estava ótimo também, mas não sentava à mesma mesa da bisteca.  Minha vingança veio na sobremesa: um sorvete de pistache com frutas vermelhas e calda de chocolate grossa que era um troço de outro mundo. Muito a contragosto, já que não nasci com a mesma gentileza de meu bom amigo, cedi algumas colheradas do meu já piccolo gelato, principalmente para a ala feminina da turma. Tudo bem, a demanda era justa.


 

·        Firenze

o   Villa la Massa
Dia seguinte, piscina (de cinema), muita conversa jogada fora, despedida de Castiglion del Bosco e estrada para Firenze. Chegamos ao Vila la Massa por volta de 18h. Todo mundo bastante cansado, provavelmente de não fazer nada, combinamos um jantar no restaurante do hotel mesmo. Chegada a hora, fui caminhando meio desconfiado para o lugar, porque apesar da bela vista do Rio Arno, não havia uma alma no restaurante, além do pianista, que tocava mesmo sem platéia. Há louco para tudo nesse mundo e esse, pelo menos, devia receber dinheiro por isso.  Não ter grandes expectativas em relação a certas coisas pode ajudar muito a evitar decepções, mas o fato é que aquele restaurante vazio, frio, com um maitre que parecia recém-saído de uma câmara de bronzeamento artificial, foi uma baita surpresa boa. Enquanto alguns iniciaram com uma gostosa salada com flor de abóbora gratinada, eu e o Marcelo começamos com uma massa fresca com um ragú delicioso que mereceu dele a frase, já famosa a essa altura, sobre "a melhor massa comida em minha vida". Não sei se foi a melhor mesmo, mas estava campeoníssima. Para completar o jantar, uma costeleta de cordeiro simplesmente espetacular, passada levemente numa farinha bem fina. Assim como a bisteca da véspera, dava para cortar até com o dedo, de tão macia.  Os vinhos indicados pelo gente-fina sommelier Dentinho (definitivamente a visita odontológica não é uma prática popular na região) foram um ótimo complemento para um grande jantar.
Fazendo um breve adendo aqui: nenhum de nós era grande especialista no assunto.  Não pensem que passamos refeições e refeições tomando os Brunellos, Barollos, Chiantis e afins mais caros da carta.  Muito pelo contrário. Normalmente aceitávamos as sugestões e os preços eram ótimos, ainda mais para quem está acostumado a pagar um preço não compatível com o vinho bebido aqui no Brasil. 
Voltando ao nosso jantar, a essa altura o frio e o vento estavam incomodando e então passamos à parte interna do restaurante para a sobremesa. Eu deixo passar poucas sobremesas, ainda mais quando leio aquelas duas palavras mágicas(e na Itália elas estão presentes em 100% dos menus): panna cotta! Pode ser chamado de pudim, de flanzinho sem graça ou pela tradução literal "creme cozido". Seja como for e do que seja feita, eu adoro esse troço. E a panna cotta do Vila la Massa fez jus ao resto da refeição. A Cris, que não é grande aficcionada (ao contrário da mãe), mas sempre pega um "peda" da minha panna e por isso já adquiriu algum know how no assunto, também achou que o negócio estava profissional.
 *fico devendo as fotos do cordeiro e do vinho 


·        Cinqueterre
Fomos dormir mais cedo, porque no dia seguinte haveria a maratona de ida e volta para Cinque Terre.  O almoço lá em Cinque resumiu-se a algumas bruschettas, sandubinhas e saladas, nada digno de nota. Até porque eu já havia alertado a todos que a noite seria fantástica, já que jantaríamos no Papposileno. E o que vem a ser isso?

·        Cavriglia

o   Papposileno
Um restaurantezinho encravado no meio de uma cidadezinha chamada Cavriglia, em Chianti. Descobrimos o Papposileno em 2010, pedindo a indicação para a Giovanna (ou Giulia ou Beatrice, sei lá....) que trabalhava em Coltibuono, mosteiro em que estávamos hospedados. Como ela já havia nos surpreendido positivamente na primeira sugestão que deu à época, resolvemos aceitar a segunda e acabamos descobrindo um dos lugares mais especiais em que já estive.
O dono do restaurante é um ex-cenógrafo, apaixonado por vinhos, que resolveu parar com a antiga profissão e abrir um restaurante. Grazie, Francesco! Ele é uma mistura do Alfredo de Cinema Paradiso com o Dr. Emmet Brown de De Volta para o Futuro ou, para os menos ligados em cinema, o sujeito é a cara do Einstein. Seja como for, ele comanda sozinho a cozinha do restaurante, que deve ter suas 10 ou 15 mesas, e faz uma comida simplesmente extraordinária. Como todo bom italiano, gosta de dizer que sua cozinha é "bruta", ou seja, a estrela da cozinha é o ingrediente, não ele. Em nossa outra visita (duas, na verdade) passou um tempo falando sobre como consegue cada ingrediente, do pescador que liga para ele ainda bem cedo, do produtor de carne local ou de onde compra seus embutidos. O "maitre" Marco, com aspas mesmo porque ele era o único garçom do local até ano passado e agora conta com apenas um ajudante, é um sujeito desses bem caricatos. Parece meio envergonhado, dá uma risadinha de canto de boca em quase todas as perguntas que alguém faz, mas é gentil, eficiente e ainda nos reconheceu assim que chegamos com a nova trupe ao restaurante. Se trabalhasse aqui por essas bandas de Terra de Santa Cruz, com certeza faria muito sucesso.
 Após a descrição dos anfitriões, vamos ao que interessa: o rango.
Comecei com a "salumeria" do Francesco, uma seleção de embutidos, em quantidade maior que a necessária. Aliás, fui ofendido várias vezes durante o jantar porque quando a turma ainda estava no processo de escolha, eu disse que as porções eram piccolas. Fernanda Caguetinha e Cici pediram uma panzanella: divididas em duas porções, uma de pão, moído e misturado com um molho delicioso e outra de ricota, uma baita ricota. Marcelo e Cris pediram um antepasto do mar, que rivalizou com a panzanella como a melhor entrada da noite. Em seguida, Marcelo e eu descobrimos uma massa com ragú levemente picante tão gostosa que fez meu grande amigo passar a massa da véspera para o segundo lugar em todos os tempos. Lucas "Thé de Menta" Lerner (todo dia, em todas as refeições, só pode ser superstição) e a Crispina não tiveram sorte. Pediram um arroz negro, mas dessa vez Francesco errou o ponto e ficou meio insosso. Acontece. Cici, a campeã da noite, mandou um gnocchi que foi muito elogiado por todos que o provaram.
Antipasto:



Primo Piatto:



Para quem pensa que acabou, ledo engano. Ainda provamos lula recheada com creme de batatas ao molho picante, lazanha de vegetais e nossa campeã pediu uma Bisteca à Fiorentina digna de competir com a do Poggio Antico.
Secondo Piatto: 

 


É fato que não havia muito espaço para quase nada, porque as porções não eram piccolinas. Ainda fiz uma piadinha dizendo que viria uma porção de queijos antes da sobremesa, e a cara de inconformismo, raiva mesmo, do Marcelo infelizmente não foi filmada. Seja como for, nosso bando de comilões hipócritas não negaria um sorbet feito por Francesco. O de tangerina quase tirou de mim uma frase a la Marcelo. Como o dele era de abacate, até o próprio ficou com vergonha de falar, dado o ineditismo do negócio. Cici, "The Champion" conseguiu milagrosamente criar um espaço e mandar uma torta de chocolate!  Foi uma noite memorável. Amigos sensacionais, lugar agradabilíssimo, tudo perfeito. Qual o preço de comer e beber isso tudo no Francesco? 100 euros o casal. Justo, muito justo. Na saída ainda fomos presenteados com uma garrafa de 3 litros do que o Francesco chamou de "o melhor prosecco da Itália". Marcelo está fazendo escola. 
 

Thé de menta

·        De volta a Firenze
Após nosso belo jantar e uma boa noite de sono, nos encontramos para o café da manhã onde Lucas "Pezzino" Lerner (alguém disse para ele que pezzino=pouquinho, e ele repetiu isso em todos os restaurantes, mas, ao que tudo indica, a palavra certa era pizzico) pedia diariamente seu omelete "babouse". Era um senhor omelete com taleggio e, bem no meio, a gema mole. Sensacional. Infelizmente, creio que não temos fotos para mostrar a qualidade da obra prima, mas era muito bom começar a jornada daquele jeito. 
Naquele dia, havíamos feito planos para jantar num restaurante em Firenze que tinha algumas estrelas no Guia Michelin (o que, sinceramente, não me emociona), mas quando o Marcelo foi confirmar a reserva, pediram um depósito adiantado de 200 euros por pessoa, o que causou uma rebelião no grupo. Pode até ser comum na Europa, mas um restaurante que cobra 200 euros pela reserva, deve custar uns 500 pela comida, não? Confesso que tenho um certo preconceito porque esse tipo de lugar é normalmente cheio de gente que gosta apenas de dizer que esteve lá e com apenas alguns poucos que gostam mesmo de comida. Após a rebelião, Fernanda, nossa X9 favorita, pegou suas anotações pré-viagem e reservou o Cibreo, para onde nos dirigimos após um dia em que eu e a Cris fomos a Coltibuono comprar azeites, rezar um pouco e dar um oi para o Argo (um cachorro gente-fina que ficou meu amigo ano passado). Nossos intrépidos companheiros de viagem preferiram ir até Firenze, o que é bastante compreensível, dado que eles não tinham nenhum vínculo sentimental com meu bom amigo canino.
o   Cibreo
Todos prontos pontualmente no lobby do hotel, nos dirigimos ao Cibreo, que ficava em Firenze mesmo, a apenas 15 minutos do hotel.  Marcelo ao volante, a noite já começou bem porque num lugar extremamente cheio de gente ele conseguiu um lugar simplesmente na porta do restaurante. Aguardamos bem pouco pela nossa távola e lá estávamos nós, de novo, praticando o esporte favorito da maioria do grupo. Mesmo a Cris e a Fernanda que faziam votos diários de fome, acabavam sucumbindo diariamente aquele momento. Sorte delas.
Próxima surpresa agradável da noite, não havia menu impresso e uma senhora, Cristina, sentou-se à nossa mesa, dissertando os pratos em italiano e depois em inglês (com uma entonação british impecável) e tirando as dúvidas dos glutões. Muito legal. Trouxeram vários antepastos para provarmos e após cinco minutos do nosso pedido, lá veio a Cristina e sentando-se entre Lucas e Cici, disse que o chefe (Fabio Picchi ) achava melhor que os vitellos tonatos que alguns haviam pedido (eu inclusive) ficariam melhor como antepastos. Se tem uma coisa que a gente aprende a respeitar depois de alguns dias na Itália é sugestão do chefe (com “e” mesmo no final, como manda Chefe JB). Além do que, o filho do homem (que ficou com a alcunha de Cibreozinho) veio reforçar a oferta. Pouco tempo depois, para a alegria de Lucas "Kung Fu Panda" Lerner, os vitellos chegaram e duraram entre 30 segundos e 1 minuto e meio apenas. Além do excepcional antepasto, brilhantemente acompanhado pelo vitello, o destaque inicial ficou por conta de uma ricota bem levemente temperada que, adivinhem, foi a melhor da vida de quem comeu. Exageros à parte, eu provei a ricota da Crispina e era deliciosa. Menção honrosa para uma carne crua, que a Cristina (a italiana, não a nossa) não deixava que chamássemos de carpaccio, porque esse é uma carne congelada e a outra era apenas fria. Que a Cristina me desculpe mas aquele carpaccio estava perfeito.
Errei quase todos os meus pedidos aquele dia, coisa rara desde que fiz um curso intensivo durante as viagens junto com meu compadre Adriano, que não erra um pedido desde 1991. Errei tanto que passei a maior parte do jantar cobiçando o rango alheio. Porém, seria muito injusto se eu não mencionasse a polenta cremosa e trufada que mandei de entrada. Muito boa.
Entre os pratos principais uma beringela a parmegiana arrancou suspiros de Lucas e o Marcelo falou aquela frase com um pouco mais de ênfase que o normal para descrever sua carne.
A sobremesa foi brincadeira, apesar de eu ter errado de novo (a descrição foi linda, mas era só um pudim de leite) mestre Picchi me salvou, mandando todas as sobremesas da casa para dividirmos!!!!!!!!! Uma melhor que a outra. Acho que as fotos dispensam qualquer descrição.
Ao final do jantar ainda conversamos por um tempo com a Cristina e os Cibreos e enquanto fomos embora bastante satisfeitos, eles apagaram as luzes e subiram as escadas, porque alguns moravam no andar de cima.

O "cardápio" Cristina: 

Antepastos:


Pratos Principais:







Sobremesas:







Uma das coisas mais legais dessa viagem foi o tratamento recebido. O Cibreo foi o ponto alto disso, porque no dia seguinte, tentamos estacionar o carro no mesmo lugar da véspera, em frente ao restaurante. Cibreozinho avisou que corríamos o risco de sermos guinchados, pediu 1 minuto, serviu uma mesa, voltou correndo, entrou no carro e foi nos guiando até o estacionamento mais próximo. Não bastasse isso, sabendo que queríamos comer aguma coisa (a cozinha já estava fechada) providenciou alguns pratos que constavam do menu da véspera e ainda pediu ao garçon que acelerasse o processo, pois tínhamos que estar na Galeria Uffizi em pouco tempo. Acharam muita gentileza? Pois bem, no final do dia, como o restaurante era perto do estacionamento, nossos amigos pararam lá para tomar um café. Entre um agradecimento e outro, ainda serviram uma torta de chocolate para a Cici e não cobraram nada! Em minha próxima visita, com certeza visitarei o Cibreo.
Dia seguinte, levantamos acampamento ainda cedo para seguirmos em direção a Milão, ponto final da nossa viagem. Obviamente antes da estrada tivemos mais uma rodada de omeletes "babouse" e eu ainda encarei uma panqueca com mel, que estava bem fraca, diga-se de passagem.

·        Milão
 A partir da chegada a Milão, achei que haveria alguma desaceleração no consumo calórico. Até começamos assim, com o jantar numa hamburgueria recomendada pelo meu estimado guia Wallpaper, que valia mais pelo recinto do que pela comida. Um lugar do tipo "descolado" (se tem uma coisa que eu não suporto é esse termo, ainda mais quando se fala de comida) mas com um hamburguer mediano. Não senta à mesma mesa do Diner 210 ou do Ritz, para citar minhas hamburguerias favoritas em São Paulo. Porém, nosso bom hotel Spadari (boa pedida pela localização e preço justo) ficava ao lado do Peck.
o   Peck
Não sei descrever o que é o Peck. Só indo e vendo. Tanto a Harrods como o Fauchon são lugares em que assim que você entra, dá uma vontade de comprar tudo e levar, ou se atirar numa prateleira e comer lá mesmo, pela qualidade do que é exposto e pela apresentação . No Peck, essa vontade é exponencialmente maior . Após menos de 5 minutos, Lucas "Giovanni Paolo II" Lerner ajoelhou-se em frente à vitrine de queijos e ameaçou beijar o chão, arrancando risos do rapaz que cuidava da área. É tudo muito bonito, muito bom. Os queijos, as carnes, os embutidos, os frutos do mar, os temperos, as massas e toda uma série de produtos de gente que só fornece para o Peck. É verdade, o que o Peck não faz, ele compra de gente que só pode vender para ele. Pelo menos é para ser assim.
Depois da visita, era inevitável almoçarmos no segundo andar, onde eles tem um restaurante que serve tudo o que está exposto embaixo. Começamos com um prato de embutidos, use sua imaginação, porque a câmera fotográfica não esteve presente. Tudo muito gostoso. Tão gostoso que a mortadela quase causou desavenças de grandes proporções. Em seguida, queijos. Mais fortes, mais suaves, mais cremosos, mais rígidos, enfim, era uma seleção variada e deliciosa, capitaneada por um gorgonzola que era diferente de todos os outros que já tive oportunidade de experimentar. Ainda tentamos comer os pratos principais, mas não deu. Com exceção de Lucas “Il Vitello Tonato” Lerner, que não deixou sequer o molho para contar a história.
Ainda voltamos ao Peck no dia seguinte, já sem Cici e Lucas que haviam partido de volta.  Comemos muito bem novamente, sem os exageros da véspera. Uma salada de camarões (recém chegados da Sicília, segundo nosso garçom camarada que já havia nos servido na véspera e deu a bela dica) e um steak tartar dignos da honra de fechar gastronomicamente a viagem. Muito dignos.
Quem for a Milão, vá ao Peck e me conte o que achou. Não deixe de tomar, também, um sorvete no Grom. E, principalmente, não dê ouvidos ao que muita gente fala de Milão. Vá e conclua por você mesmo. Aliás, como deve ser tudo na vida, certo?
Quem conseguiu chegar até o final desse texto realmente gosta muito de rango. Em nome desses leitores glutões, procurei detalhar bastante nossa intensa experiência gastronômica . A parte boa é que pude relembrar passo a passo da nossa maratona e por vezes me senti comendo tudo de novo. A parte ruim? Não teve, mas bateu uma saudade tão grande da turma que acho que precisamos marcar um jantar com urgência.

Abc,

Christiano C. Chadad
Restaurantes:
-  Castiglion Del Bosco
Endereço: Loc. Castiglion del Bosco, 53024, Montalcino

-  Trattoria il Leccio
     Endereço: Via Costa Castellare, 1, Sant'Angelo In Colle


-  Enoteca Fortezza
Endereço: Piazzale Fortezza, Montalcino
-  Poggio Antico
Endereço: 53024, Montalcino
-  Villa la Massa
Endereço: Via Della Massa N 24, Firenze
-  Papposileno 
Endereço: Piazza A.Frank, 2, Cavriglia
-  Cibreo
Endereço: Via Andrea del Verrocchio, 5-red, Firenze
-  Peck
Endereço: Via Spadari, 9, Milano
Hotéis:
-  Castiglion Del Bosco
Endereço: Loc. Castiglion del Bosco, 53024, Montalcino
-  Villa la Massa
Endereço: Via Della Massa N 24, Firenze
-  Spadari al Duomo
Endereço: Via Spadari, 11, 20123, Milano

Principais vinhos desgustados durante a viagem e citados no post:










Último dia em Milão, tomando o "melhor prosecco da Itália" segundo o Francesco, que foi quem nos presenteou com uma singela garrafa de 3litros! Os morangos, taças e balde com gelo foram providenciados por uma simpática funcionária do Hotel Spadari!!

Arrivederci!!!!


Edição e fotos: Cristina Cardoso
     

4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto debutante do Chris. Como ele mesmo disse, apesar de longo, no ponto certo para quem aprecia os prazeres da mesa e da companhia de grandes amigos.
    Obrigado pela menção, e pela fama que não tenho certeza de ser justificada. Sinceramente acertar ou errar um pedido é algo muito relativo, pois raramente nossa escolha acaba sendo tão maravilhosa como as que seu amigo Marcelo fez durante a viagem, mas também é incomum pedir algo realmente ruim, partindo do princípio de que estamos falando de bons (não necessariamente caros ou badalados) restaurantes.
    Um dos meus segredos é pedir, genuinamente, que o maitre ou garçom recomenda um prato. Muitas vezes a primeira recomendação não me agrada, mas geralmente a segunda ou até a terceira me convencem, pois já eliminei boa parte do cardápio por conta própria.
    Mesmo assim, tenho certeza que tanto os pedidos acertados e aqueles menos felizes foram excelentes, e o texto nos deliciou e despertou um pouco de inveja aos que não puderam compartilhar esta viagem. Parabéns !

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  2. Chris,

    adorei as dicas gastronomicas da Toscana e vc no 2-ces.

    Volte sempre por aqui...o 2-ces adorou virar 3-ces.

    Bjs da Cláu

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  3. Muito orgulho deste post brother. E olha que a redatora da família sou eu, rs.
    Parabéns! Água na boca e muita vontade de ir para a Toscana.
    Bjs
    Fernanda

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